sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Pela falta de habilidade com as palavras e prática com este espaço, prefiro transcrever bons textos, me apoderando de suas idéias e me poupando de erros. O que segue é de autoria do Mino Carta, jornalista fundador de revistas com grande circulação, e das quais ainda pretendo falar. Segue...

Violência democrática

Luciano Huck esta manhã não apareceu no vídeo e sim na primeira página da Folha de S.Paulo. Assaltado em São Paulo, chama a tropa de elite, aquela que protagoniza o filme polêmico que não representará o Brasil no Oscar. O texto sincopado do apresetador de TV é o desabafo de quem acaba de passar por um grande susto. Trata-se de enredo inevitável: se alguém me ameaça de revólver em punho e eu tiver a sorte de encarnar de súbito John Wayne, atiro antes, como ele fariano desafio da rua principal. Não sou o velho John, e creio que também Huck não o seja. Muitas coisas que diz fazem sentido e são justificadas. Espantam-me são as contradições da classe a que o apresentador pertence. Não perco a oportunidade para admitir: eu também sou do privilégio, embora não pague, como Huck, fortuna em imposto. Mas a contradição está em imaginar que uma tropa de elite, igual aquela do filme, resolve o problema. É o mesmo que iludir-se em relação à pena de morte, tida ainda em alguns rincões do mundo, a começar pelo Império de Tio Sam e a terminar nos bairros ricos e nem tanto das metrópoles nativas, como o melhor instrumento de combate ao crime. No mais, convém sublinhar que o homem não nasce bom ou mau, assim como haveria povos melhores ou outros piores. As circunstâncias são as que valem. E as nossas são terríveis exatamente porque há quem suponha que basta prender e arrebentar para garantir a segurança dos homens de bem. Enquanto houver quem acredita que violência se combate com violência, não há, conforme anota o desalentado Huck, como enxergar saída do atoleiro.

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